quinta-feira, 17 de abril de 2008

O morto e a ferrari

Estava assistindo a um dos telejornais da manhã, quando foram noticiados dois acidentes no trânsito paulista. No primeiro deles, uma vítima fatal. Não me lembro qual a marca do automóvel ou como se deu o acidente. Não falaram nada sobre o morto. Se tinha esposa e filhos, se voltava do trabalho ou se ainda era jovem. A notícia foi dada num piscar de olhos. Mas me lembro bem que foi na Avenida dos Bandeirantes porque o mesmo jornalista que cobria este acidente foi surpreendido por outro, algumas dezenas de metros à frente. Desta vez a TV deu destaque especial. Não havia vítimas fatais. Na verdade só amassou um pouco do pára-choque e do pára-lama, mas o jornalista, bem como a edição do telejornal, deu a notícia com pesar e tristeza, dedicando tempo – que na TV, sabemos, é muito caro – por um único fato considerado especialíssimo: O automóvel abalroado era uma Ferrari. Porque usar tempo precioso do noticiário para falar de mais uma vítima do trânsito? Afinal, morre tanta gente em nossas avenidas e estradas. E se somarmos às vitimas de trânsito os mortos por assassinato, por balas perdidas e por tantas outras violências banais? Não haveria tempo suficiente. O melhor é contabilizar como dado estatístico: morreram 15 num atentado no Paquistão; mais 18 vítimas de um homem bomba na Palestina; outros 23 numa enchente no sul da Ásia; mais algumas dezenas nas estradas federais no último feriadão prolongado. Morte individual não dá notícia! A não ser, é claro, que seja uma personalidade de sucesso. Se for do meio artístico, melhor. Por outro lado, não é todo dia que a gente ouve de um acidente (mesmo bem simpleszinho) com uma Ferrari. Aliás, não me lembro de nenhum aqui no Brasil. Quando terminou a notícia e começaram as propagandas, desliguei a TV, peguei um cafezinho e fiquei pensando na banalização da vida. Ambos os acidentes praticamente no mesmo lugar. Em um deles um morto e noutro uma Ferrari amassada. O segundo ganhou mais destaque porque valia não sei quantos centos mil reais. Dar mais importância para uma Ferrari do que para uma vítima fatal só demonstra a banalização da vida e os valores corrompidos da nossa sociedade. Na contramão da hipocrisia social a Bíblia afirma que Deus não tem prazer na morte do ímpio, mas que ele se arrependa e volte (Ez 33:11) e que quando uma ovelha perdida é encontrada há alegria no céu (Lc 15:7). Não acredite em tudo que os telejornais deixam transparecer. Você vale mais que todas as Ferrari’s do mundo!
A Deus toda glória!
Graça e Paz
Pr. Damárcio Gutemberg Pereira
Primeira Igreja Batista em Passos

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